quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sobre O Espírito d'O Pão


Com a palavra o diretor

1. Na criação do curta-metragem O Espírito d’O Pão, levamos em consideração que um dos objetivos da Padaria Espiritual era o de repensar a literatura e as artes cearenses do final do século XIX. Assim sendo, para abraçar esse “espírito” irrequieto dos Padeiros, tornava-se necessário fazer uma obra audiovisual não somente sobre a Padaria e seu periódico “O Pão”, antes sobre o que a moveu a ser o que foi. Para tanto, era preciso imitar o seu espírito (e isto explica o título “O Espírito d’O Pão”), sendo uma espécie de cineasta Padeiro dos tempos atuais, porém com uma visão no passado (note-se que cinema e Padaria nascem na mesma época). Em O Espírito d’O Pão, o experimental ocorreu menos por vontade pessoal que pelo fato de o próprio tema indicar este caminho.

2. Como tratássemos de um movimento literário, decidimos que a palavra escrita seria a tônica de todo o vídeo. Porém, ela não surgiria como um mero letreiro ou legenda, em que um narrador recitasse textos da Padaria. Também não desejávamos que a imagem captada funcionasse apenas como “pano de fundo” ao discurso dos Padeiros. Pretendíamos fazer uma interação entre a escrita, a imagem e o som. Nossa intenção foi a de criar poemas-visuais, e acreditamos que efetivamente alguns tomaram a forma de poemas-concretos.

3. Com a realização de O Espírito d'O Pão, não tivemos a intenção de tentar conduzir o espectador até à época da Padaria Espiritual, antes desejamos apresentar e relacionar o pensamento de seus Padeiros ao nosso tempo. Ao elaborarmos o roteiro, na leitura dos exemplares do jornal “O Pão”, percebemos que muitas de suas inquietações sobre a sociedade fortalezense, mesmo decorrido mais de um século, apareciam como atuais. Nosso trabalho foi apenas capturar as imagens e editá-las de uma forma que corroborassem com o espírito da Padaria Espiritual – um movimento literário cheio de poesia, ironia e crítica social.